TERCEIRIZAÇÃO: Uma Nova Opção De Modelo

Recentemente eu participei de um debate virtual sobre a terceirização de equipe de vendas.

O assunto terceirização é bastante interessante e atual, pois o grande benefício da terceirização é fazer com que a empresa fique focada naquilo que ela julgar importante. 

Junto com o benefício, vem a conta a pagar, já que não há benefício sem custo: o controle é menor e as dúvidas maiores.

O problema é encontrar critérios defensáveis e aceitos, pelas pessoas envolvidas, para o que é importante e o que não é, e assumir os riscos.

A primeira resposta é que se não fosse importante não deveria ser feito, e essa afirmativa verdadeira esconde um problema maior, que é o que pode ser terceirizado e o que não deve ser terceirizado.

Há uma segunda voz corrente na cultura administrativa, derivada da área jurídica, que as atividades fim não devem ser terceirizadas. Essa abordagem leva ao mesmo tipo de problema: quais são as atividades fim?

Uns acham que são estas, outros aquelas, e outros ainda aquelas outras; deixando o consenso longe.

Nos tempos em que eu participei de uma empresa estatal, foi formado um grupo (*) para discutir a terceirização, grupo este que eu me orgulho de ter participado, pois surgiu um tipo de visão diferenciada, que julgo bastante útil, para a separação entre o que pode ser terceirizado e o que não deve ser terceirizado. 

Esta idéia, que brotou do grupo, não pretende ser a pedra filosofal da terceirização, mas é apenas mais uma opção para a análise das atividades que podem ser terceirizadas e as que não devem ser terceirizadas.

Vamos à idéia: primeiramente agrupamos as atividades de toda e qualquer empresa em 4 macro-atividades: Conhecimento, Concepção, Gerência Sistêmica e Produção.

A definição de cada uma delas está apresentada a seguir: 

1. Conhecimento:
conjunto de idéias, notícias, experiências, fatos, pesquisas, ciência, discernimentos que propiciam, permitem, ou alavancam a criação, sobrevivência e o estabelecimento de relacionamento da empresa com a comunidade; atributo que o ser empresarial necessita para reagir pró-ativamente ao mundo circundante, na medida de sua organização e no sentido do progresso e sobrevivência tanto desse mundo circundante como a sua própria, pois é parte desse todo. 
2. Concepção:
utilização do conhecimento estruturado e dirigido para a formação de uma organização e suas partes que atuarão sobre o mundo circundante estabelecendo compromissos mútuos de forma a atender necessidades e estabelecer trocas com esse mundo circundante; conjunto consistente de formar idéias, conceitos, planos que constroem, possibilitam, delineiam a organização da empresa nos seus mais diversos aspectos e suas relações de troca com o mercado, aqui incluídos seus empregados e terceirizados. 
3. Gerência sistêmica:
ato ou efeito de gerir de forma lógica um sistema ou um processo de forma a garantir a conformidade dos resultados desse sistema ou processo a requisitos estabelecidos ou acordados; ato de administrar, estabelecer ou acompanhar tendências do mercado, interagindo no conhecimento e concepção, é complementada pela gerência de produção ou operacional (ver gerência de produção). 
4. Produção:
ato ou efeito de gerir de forma lógica pessoas, máquinas, enfim todos os elementos e energia constituintes de um sistema ou um processo que obtém como resultado desses esforços conjugados produtos ou serviços necessários ao atendimento do mercado, de forma otimizada, sob o ponto de vista de custo (financeiro, material e humano) associado à produção, e em conformidade ao que demanda o seu mercado alvo.




Da análise destas macro-atividades concluímos há uma tendência natural das empresas em concentrarem-se na Produção, fato este que poderia ser representado em um gráfico radar como o mostrado abaixo: 

Após algum tempo de debate, tomada como premissa que toda a empresa quer dominar o mercado, chegamos à seguinte conclusão: a prioridade para terceirização é a macro-atividae Produção, mas para isso sua empresa precisa dominar, e muito bem, a Gerência Sistêmica, para poder gerenciar o dia-a-dia da Produçãoterceirizada. 

A figura 2 mostra o caminho para a terceirização: diminuir seus esforços na Produção para ganhar capacitação em ConhecimentoConcepção e Gerência Sistêmica. Inclusive, cabe ressaltar que sem uma Gerência Sistêmica atuando, não dá para terceirizar nada. 

Então, com a terceirização da Produção,o movimento que a empresa deve tomar é dirigir seus esforços mais focados, para aumentar e melhorar seu desempenho nas outras 3 macro-atividades, conforme mostra a figura 2. Para promover a terceirização é necessário aumentar a Gerência Sistêmica dos processos de produção, que para tanto precisa de uma Concepção do negócio mais apurada.

Fig.1 – Macro-atividades de uma empresa: foco maior na produção 

Fig. 2 – Tendência com o início da terceirização

Para ser obtida esta Concepção de negócio mais apurada, por sua vez, precisa de mais Conhecimento. A Concepção é atividade própria e essencial da empresa, enquanto o Conhecimento deve ser trazido, mantido e trabalhado dentro da empresa, mas não necessariamente, criado dentro dela. Dados estes conceitos, na prática, este modelo diz o seguinte:

1. A Produção é que pode ser terceirizada. 

2. Para terceirizar a produção é necessário ter montado um esquema para fazer a Gerência Sistêmica do que está sendo produzido e entregüe, bem como das necessidades de alteração daquilo que se produz e entrega e de como se produz e se entrega. Isto pode ser feito de forma incremental, mas só se terceiriza aquilo sobre o qual se tem Gerência Sistêmica

3. Os recursos economizados com a terceirização da Produção devem ser dirigidos às macro-atividades de Conhecimento, Concepção e Gerência Sistêmica

A figura 3, abaixo, mostra, de uma forma diferente, o inter-relacionamento entre as macro-atividades da empresa e o mercado. 

Fig. 3 – Modelo de terceirização: inter-relacionamentos internos e externos 

Por sua vez a figura 4, abaixo, mostra a tendência que deve ocorrer com a terceirização da Produção, que é a maior capacitação nas macro-atividades de Conhecimento, Concepção e Gerência Sistêmica

Fig.4 – Evolução da capacitação nas 4 macro-atividades com a terceirização.

Convém ressaltar que, na figura 4, a Concepção foi colocada mais próximo de seu grau máximo (mais próxima ao círculo), propositalmente! Vejamos a razão disto: 

1. É difícil a terceirização completa, razão porque a Gerência Sistêmica também não necessariamente precisa estar em seu grau máximo. 

2. O Conhecimento também é impossível tê-lo “todo” dentro da empresa, mas a Concepção do negócio precisa estar sempre e constantemente sintonizada com o mercado. 

3. A Concepção é não só a identidade da empresa frente ao mercado que atua, como também trata das suas relações de troca com o mercado – clientes, fornecedores, empregados, acionistas e sociedade em geral -, ou seja, a Concepção define o que a empresa é e como vai ser percebida pelo mercado. 

E por último, se você não tem Gerência Sistêmica sobre o que vai ser terceirizado, é uma temeridade fazê-la! 

(*) – Eu não consegui encontrar, em minhas anotações, os integrantes desse grupo, mas no que a minha memória não falha, eram os seguintes: Fujio Takamura, Jorge Quadros, Álido Lorenzato, Amilcar P. Marques e eu.

Você pode imprimir, repassar ou copiar este artigo, no todo ou em parte, contanto que
1º – mantida a autoria; 2º – divulgado o autor e 3º – divulgado o endereço do site  https://www.merkatus.com.br

Carlos Alberto de Faria

Graduado em Engenharia Eletrônica pelo Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA) em 1972 e pós-graduado em Marketing de Serviços pela Fundação Getúlio Vargas (FGV) em 1997. Mais de 40 anos de experiência em Marketing.

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